Até uns anos atrás minha vida foi bem conturbada, talvez os leitores mais "antigos" saibam disso. Muitas vezes eu evitei (e confesso que as vezes ainda evito) falar sobre meu passado, afinal, é PASSADO... Já foi! Não gosto e nem preciso ficar me vitimizando, ou lembrando para as pessoas sobre tudo que já passei, até por que quase todo mundo já passou uns perrengues na vida - alguns mais, outros menos.
Eu não sou mais que ninguém, mas não sou menos também. Sou uma pessoa que cresceu sem estrutura familiar e que fez escolhas erradas. Não existem culpados, apenas aprendizados.
Fui uma criança mimada, me tornei uma adolescente rebelde, chata e egoísta. Eu revidava quando minha mãe vinha me dar uns tapas, e achava normal quebrar tudo na hora da raiva. Apanhei muito (e não foi da minha mãe) pra aprender a "baixar a bola".
Depois que minha mãe se foi, eu me droguei. Me droguei demais, me entreguei pra pessoas por carência, deixei meu amor-próprio totalmente esquecido e amassado em um canto qualquer (apesar de, aparentemente, passar a imagem de uma jovem independente, segura e cheia de si), e demorei pra perceber que estava "feia na fita". Na verdade, acho que só percebi quando eu consegui sair do meu fundo do poço.
Há uns 4 anos atrás, acabei indo morar em uma favela, em uma situação de vida bem precária. Me envolvi com um tráfico "chinelo", de migalhas (pois nem era muito lucrativo), sempre envolvida com outro usuário, muitas vezes mal tinha o que comer, e fiquei meses e meses sem ter um botijão de gás em casa. Passei por relacionamentos doentios, abusivos, e degradantes.
Apanhei durante 6h trancada em uma casa, desmaiando e acordando a base de socos, tapas, puxões de cabelo, chutes - sem falar nas facas e garfos arremeçados. Caminhei pela rua durante a madrugada, com o agressor atrás de mim com uma lajota na mão ameaçando jogar na minha cabeça a qualquer momento.
Um dia cansei de tudo aquilo, e percebi que precisava de grana pra mudar alguma coisa na minha vida. Fui pra zona.
Me prostituí e conheci um lado da vida totalmente novo e diferente, mas que me transformou como mulher, como ser humano.
Enfrentei meus próprios fantasmas, e as noites solitárias após grandes noitadas me fizeram enxergar quem eu sou realmente. Ali comecei a me encontrar, me estabilizar, e me levantar. Foi uma fase de auto-conhecimento incrível (e pesada, diga-se de passagem).
A vida foi tão generosa comigo que foi colocando pessoas maravilhosas no meu caminho. Amigas/irmãs, e um companheiro que nem se eu levantasse a mão pros céus um milhão de vezes seria o suficiente pra agradecer. Consegui formar uma família, me consertei com meu passado e com pessoas importante para mim que, devido a minha "vida louca" anterior, fiquei mais de uma década sem ver. Fui agraciada com a chance de ter uma VIDA "normal".
Hoje posso dizer que sou feliz e grata por tudo, mas não pensem que todos os dias são fáceis... O passado deixa marcas, não tem jeito.
Descobri que após tudo isso, me tornei uma pessoa extremamente ansiosa, sempre com mil coisas na cabeça, fazendo lista de afazeres extremamente detalhadas que me deixavam frustrada cada vez que eu não conseguia cumprir por completo.
Mil projetos na cabeça, vontade que tudo aconteça rápido, cheguei a fazer planejamento financeiro até 2020... Resultado: A bomba estourou. Tive uma crise de ansiedade, palpitações, falta de ar, tremedeira, e muitas lágrimas.
Precisei falar, chorar muito, colocar pra fora tudo o que eu guardava dentro de mim. Foi difícil, mas necessário.
Tudo isso me serviu para parar e respirar um pouco. Também foi bom para organizar a mente, e ter certeza do que eu realmente quero pra minha vida. O mais importante é VIVER UM DIA DE CADA VEZ.
Mas, ficou também a questão...
Será que quero continuar assinando como Juliana Ramos?
Será que não é hora de fechar esse capítulo da minha vida definitivamente?
Eis a questão!
Continuo aqui, refletindo...