quarta-feira, 4 de maio de 2016

Crises Existenciais

Logo que comecei a trabalhar tive umas crises de existência, ou de identidade - como quiser chamar.

Do dia pra noite eu, que nunca nem sequer tinha pisado em uma zona, estava lá, trabalhando.
Lembro até hoje de como escolhi o nome Juliana e da roupa que eu usei na primeira noite (um short vermelho e uma blusinha preta - que estavam largos e bem batidos). Apesar de não fazer tanto tempo assim (pouco mais de 1 ano e meio), já vivi tanta coisa nesse período que parece que fui puta a vida inteira.

Claro que foi uma escolha minha e que eu tinha consciência que não seria fácil. Mas na prática tudo é mais complicado, né?
Meu primeiro dia de trabalho foi uma "maravilha". Os clientes não eram dos melhores, mas eu estava meio que em "modo automático" de tão nervosa, e mal raciocinava. Pensava apenas em ganhar dinheiro e tornar aquilo o mais agradável possível.
"Vou tirar de letra" - pensei. Mas mal sabia o que me aguardava...

Nos dias seguintes já tive uns altos e baixos, mesmo com o dinheiro entrando eu pensava "será que vale a pena?" "e se alguém descobrir?" - eu estava saindo de um relacionamento doentio e morria de medo de ser descoberta (tenho certeza que, na época, ele me mataria). Hoje em dia, não me importo mais. As pessoas que precisam saber, sabem. E se alguém que ainda não sabe "descobrir", paciência!

Lembro que no início tinha dias que eu torcia pra campainha daquela casa de massagem não tocar, mesmo sabendo que precisava que ela tocasse para ganhar dinheiro - caso contrário eu estaria ali perdendo tempo. Certa vez me senti tão angustiada que comecei a chorar no meio do programa, e pedi pro cliente não contar nada pra cafetina e que eu mesma devolveria o dinheiro dele - e assim fiz.
Outra vez, já nas boates, também tive uma crise de choro no meio do salão, peguei minhas coisas e fui embora ainda no início da noite. Me sentia suja e perdida naquele meio.
Mas logo vinha o dia seguinte, a necessidade do dinheiro, e eu pensava "eu aguento". Aos poucos as coisas vão se tornando normais.

Não sei em que momento o nome "Juliana" passou a fazer parte de mim definitivamente. Em que momento tudo isso se tornou rotineiro. Quando foi que a ideia de ser uma garota de programa deixou se der novidade.
Fui me acostumando aos poucos, o que não quer dizer que tenha sido fácil. Longe disso! Vários dias não fui trabalhar, ou desisti no meio da noite, por não estar bem psicologicamente.

As coisas começaram a melhorar quando passei a trabalhar por anúncios, e somente durante o dia. Voltei a ter uma rotina normal, e viver mais a minha vida pessoal, e isso me fez muito bem.
Atualmente posso dizer que estou bem, mesmo. Não que nas outras épocas não estivesse, mas a fase das crises existenciais passou. Hoje me sinto mais segura, mais convicta do que quero, e até melhor como pessoa.
A prostituição me ensinou muita coisa, muita coisa mesmo. E não falo só de sexo, mas sim sobre a vida, as pessoas, e sobre mim mesma principalmente. 

3 comentários:

  1. muito bom e importante fazer esta reflexão sobre o que, e como estamos fazendo, nesta nossa passagem pela vida, fazendo diferença(positiva)para algumas pessoas, nos deixa mais leves e felizes.

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  2. Gostaria de saber se vc ganha mais dinheiro trabalhando em boates ou por conta própria? E qual a melhor forma de anunciar? Em sites, blogues, rede social ou jornal? O que dá um custo benefício melhor para anunciar?

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  3. Olá!!
    Trabalhar por conta própria deu mais retorno pra mim. Apesar que se tem mais gastos também, com aluguel, deslocamento, anúncios, enfim. Mas mesmo assim ainda valeu mais a pena do que ficar em boates (o que não quer dizer que o retorno também não seja bom).
    Sobre os anúncios, eu anuncio em site e rede social e o retorno é bom em ambos, principalmente sites de classificados.
    Beijos!

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