quinta-feira, 22 de outubro de 2015

Sociedade Secreta

Quase todas as garotas de programa levam uma vida dupla. Imagino que (quase) ninguém vai abrir uma conta no banco, por exemplo, e falar que sua profissão é GP.
Eu mesma sempre invento alguma coisa, como "cuidadora de idosos". Não tem necessidade de falar a verdade em todos os casos né?
Vivemos em uma sociedade tão preconceituosa que só de falar que é GP as pessoas já olham de uma forma como se fosse uma mulher promíscua, que sai dando pra todo mundo na rua ou que não quer nada com a vida.

Mas, em meu círculo pessoal (que devo confessar, é muito restrito) gosto de ser transparente.
Quando "emputeci" (rs), ficava com um cara e inventei pra ele que ia trabalhar com eventos. Nos víamos só final de semana, e eu simplesmente não tinha assunto. Afinal, tinha passado a semana toda na zona e quando estava com ele não podia conversar sobre as coisas que tinham acontecido comigo. Ainda mais no início, que tudo é novidade e passei por algumas "crises de existência".
Sem falar que vivia preocupada escondendo os possíveis vestígios da minha existência como Juliana.
Acabei terminando, não dava pra levar a situação adiante e naquele caso não valia a pena todo o stress de falar a verdade.
Depois disso decidi jogar limpo com as pessoas que achei necessário, e com as quais tenho mais convivência.
Eu não conseguiria ter intimidade com alguém e sustentar uma mentira durante muito tempo. Viver assim todos os dias deve ser sufocante demais.

Vi muitas meninas passando nervoso com medo de serem pegas no flagra. Algumas inclusive foram descobertas. Outras viviam sem levantar a mínima suspeita.
Trabalhei com uma que há 8 anos dizia ser manicure, e trabalhava durante o dia em casas de massagem. Antes de ir embora sujava as mãos de esmalte, e tchau!
Outra falava que era faxineira e as vezes até pingava água sanitária na roupa que ia vestir pra voltar pra casa. Vi meninas que fingiam várias profissões, compravam uniformes, crachás falsos, e a lista de histórias é imensa.
Fico imaginando como deve ser difícil viver preocupada com medo de ser descoberta. Pior ainda é chegar em casa e não poder desabafar, ou contar como foi seu dia.
Conheci uma que não podia nem gastar o dinheiro que ganhava, e nem investir em nada pois não tinha como explicar para o marido a origem daquilo tudo de repente.

Como sempre falo: cada um, cada um. Com certeza existem motivos para decidir ter uma vida dupla. Muitas não querem abalar a família, constranger os pais, enfim. Cada um sabe da sua criação e dos seus motivos, e são bravas guerreiras pelo fato de colocarem a "cara a tapa". Eu, particularmente aplico o velho ditado: se quiser gostar de mim, goste. Não quiser, paciência. Não posso abrir mão das coisas que eu quero por causa de outras pessoas. Até porque ninguém nunca veio trazer nada na minha porta, e nem pagar minhas contas. Se quero alguma coisa preciso correr atrás, e quando entrei nessa foi por escolha própria. Mas, enfim, cada caso é um caso.

Depois que entrei nesse mundo descobri que somos quase uma sociedade secreta, rsrsrs!

Um comentário:

  1. Como sempre é um prazer ler suas postagens. O seu modo de escrever e os temas são interessantes.
    Parabéns, e continue escrevendo ��

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