segunda-feira, 30 de maio de 2016

Sobre a Aposentadoria

5 meses... Menos de meio ano... É SÓ isso que falta para eu "pendurar as calcinhas" como dizem por aí. Sei que vai passar rápido, e tem horas que sinto um frio na barriga.
Como vai ser depois? Será que eu vou sentir falta? E os clientes? Devo manter amizade com os mais "chegados"? Continuo escrevendo no blog? E se um dia me faltar dinheiro?

Não é uma vida fácil. Está longe disso. Mas não posso negar que tem seus prazeres e confortos.
Dinheiro é bom e todo mundo gosta, e mesmo que não seja uma fortuna é sempre bom saber que "vai ter". Não adianta: pouco ou muito, toda puta ganha dinheiro. Sempre tem cliente. Se um dia não dá tão bom, no outro já melhora, e assim vai. Também posso me dar o luxo de simplesmente não trabalhar se eu não estiver num dia legal... Adoro ser dona do meu nariz e não ter que dar satisfação pra nenhum patrão haha.

Mas sinto que está chegando a hora mesmo, sabe? O cansaço e o stress às vezes afetam um pouco a rotina. Talvez muitas pessoas não se dêem conta disso, mas nós, garotas de programa, vivemos em clima de tensão, afinal nunca sabemos quem iremos encontrar. Sem falar no fato de estarmos sendo julgadas o tempo inteiro por algo tão íntimo: nosso corpo e nosso jeito de transar.
E tem aquilo que já comentei por aqui, que é muitíssimo importante pra mim: minha vida pessoal me chama. Aliás, ultimamente ela não chama, ela grita. Minha filha está virando uma mocinha cada vez mais esperta - o que só me impulsiona a parar, e surgiu alguém na minha vida. Na verdade surgiu no inicio, quando fazia apenas 2 meses que eu estava nessa - e lidar com minha cabeça dura de "só vou parar quando conseguir o que eu quero" não é fácil pra ele. Mas o tempo de espera nos fez ver que é isso mesmo, que não era fogo de palha, e eu quero muito aproveitar a chance de ter encontrado alguém que nos ame (a mim e minha pequena) e que me faz sentir que tenho, enfim, uma família. Quero tentar.
Ando sentindo vontade de ter uma vida mais normal mesmo, estudos, trabalho, família, aquela coisa com um Q de Amélia (mas uma Amélia moderna, viu gente!).

Enfim, acho que é praticamente uma contagem regressiva para o fim de um ciclo e início de um novo.
Desejo apenas que esse encerre em paz e que o próximo seja ainda mais feliz...
Que venham os últimos meses!

domingo, 29 de maio de 2016

Eterna Romântica

Como é bom ter alguém para compartilhar meus sonhos e planos, meus momentos bons e ruins, meus dias e noites.
Mesmo que o mundo inteiro não entendesse, não me importaria.
O que realmente me importa, e me cativa, é essa energia, essa sintonia, esse frio na barriga.

Confesso que no começo pensei que seria mais um. Ainda mais eu, que convivo com tantos todos os dias. Mas você foi diferente. Talvez por não ser um cliente, sei lá.
Você enxergou em mim mais do que um corpo. Você não conheceu a "Juliana Ramos". Você conheceu a pessoa por trás de tudo isso, a mulher, mãe, amiga, filha. A mulher que tem dúvidas, medos, sonhos e vontades, como qualquer outra.
E é esse fato que me alegra a cada dia: você gostou de mim do jeito que eu sou. Não preciso fingir e nem me esforçar pra agradar, pois sei que sou aceita, amada e respeitada.

Não sei se um dia vai ler, mas eu quero deixar aqui registrado o quanto você é especial pra mim nesse momento, e o quanto eu desejo que seja assim por toda vida.

Sei que não é fácil, mas te agradeço por toda sua compreensão, amor, paciência, respeito e principalmente por estar sendo aquela pessoa que posso contar. Espero estar retribuindo à altura.
Amo você!

quinta-feira, 19 de maio de 2016

Clientes

Não sei dizer quantos clientes já atendi desde que comecei a trabalhar como GP, nem sei se eu gostaria de fazer essa conta rsrs, mas foi o suficiente para me deixar "um pouco" mais experiente e para aprender a lidar com eles também.

Existe cliente de tudo que é tipo, estilo, idade, nacionalidade. São muitos os homens que pagam por sexo - isso é fato. 
Alguns deles aparecem só de vez em quando, e outros tornam-se clientes fixos - são os que "sempre" vem, todo mês, toda semana, quase todo dia, enfim...

Certa vez atendi um cliente que começou a vir religiosamente todos os dias, durante umas 3 semanas. Não falhou nem um dia sequer! Até que simplesmente não apareceu mais... Acho que faliu, ou enjoou mesmo (espero que não tenha sido nada grave).

Entre tantos clientes, são diversas personalidades - claro.
Tem alguns que não querem só sexo, querem companhia mesmo. Conversar, namorar, passar o tempo com alguém.
Alguns mandam mensagens de bom dia, boa tarde, boa noite, e mandam mensagem pra perguntar se está tudo bem durante a semana.
Outros já separam bem o lado profissional do pessoal, e realmente só procuram quando querem marcar um horário.
A grande maioria é bem gente boa, transam, batem um papinho, e quando o tempo acaba pagam e vão embora.
Com alguns chega a rolar um carinho, tipo "amigos que fazem sexo", gosto quando rola essa afinidade, o programa flui e se torna leve.

Mas claro que existem os sem-noção também. Começando pelos grosseiros, ou que tem algo muito incômodo (como um que cheira cocaina e vive com o nariz escorrendo, eca). Esses normalmente eu atendo apenas uma vez e coloco na lista negra pra nunca mais atender. Tenho vários contatos nomeados de "não atender" ou "somente emergência" (que são aqueles que dá pra encarar mas só se estiver precisando muito de dinheiro rsrs).

Ou uns que tomam liberdade demais, e daí é preciso cortar as asinhas.

Já tive caso de cliente que achava que eu devia alguma satisfação. Ele vinha toda semana e às vezes me ligava pra saber como eu estava. Eu atendia e era simpática com ele, afinal era um bom cliente. Certa vez ele ligou no fim de semana, e eu não atendi  (meu celular costuma ficar desligado). Na segunda-feira tive que ouvir ele me perguntando se eu estava tão ocupada que não podia atendê-lo, que ele queria me convidar pra sair (sabendo que só atendo de segunda a sexta), e queria saber o que eu estava fazendo. Oi? 

E não para por aí... Pra não perder o costume, lembrei de um cliente da casa de massagem. Ele era motoboy, entregava lanches de madrugada, e de vez em quando ia me fazer uma visita. Sempre ficava meia hora, e até então nunca tinha me incomodado
Uma bela noite ele apareceu e tudo rolava bem, até que nosso tempo acabou. Ele pediu mais 5 minutos, e eu deixei. A cafetina começou a bater na porta, precisava liberar o quarto. Ele novamente pediu mais 5 minutos, e eu tentei explicar que realmente não dava, só se ele pagasse mais. Além da pressão da cafetina, eu também não tinha tempo a perder, ganhava pouco por programa e precisava atender outros clientes.
Ele começou a dizer que eu não tinha consideração por ele, que eu preferia os outros, saiu bufando e dizendo
-Vai lá vai... Vai atender teus clientinhos!

(Hoje claro que não brigo com ninguém por causa de 5 ou 10 minutos, mas quando trabalhamos para os outros não é tão simples assim).

Tento entender esse povo até hoje... Mas o que mais gosto nisso tudo é que o contato íntimo com os clientes me faz enxergar como as pessoas são diferentes uma das outras (ainda bem!).

quarta-feira, 11 de maio de 2016

Amor Próprio É Tudo

Nada melhor do que amar a si mesmo... Depois que a gente descobre o quanto é especial, não é qualquer coisa que nos abala. 

Viver no meio da prostituição me tornou muito mais forte. Descobri uma força em mim que nem eu mesma sabia que existia, e nesse período eu aprendi a me amar e me valorizar mais. Não falo em questão de cachê, dinheiro, mas de auto-estima e segurança mesmo, sabe?

Dou risada quando lembro, mas quando comecei a pensar na hipótese de virar uma garota de programa, uma das minhas dúvidas era: será que alguém vai pagar pra transar comigo?
Hahaha! Não sou nenhuma Gisele Bündchen, mas nunca servi pra feia, modéstia a parte. Só que apesar de sempre receber elogios, eu não me enxergava assim. Até me achava bonita, mas quase sempre me sentia inferior em relação a outras pessoas.

Também achava que nessa vida da putaria só tinha lugar pras Panicats. E eu vi que não... São mulheres normais, como eu, e qualquer outra mulher que a gente vê na rua todo dia. Claro que o dinheiro faz a gente melhorar, afinal o que a natureza não dá o dinheiro compra rsrs... Mas todas se preocupam com estrias, celulites, pontas duplas, imperfeições, enfim. Mulheres normais!

Foi vendo tudo isso que comecei a me aceitar mais, a gostar mais de mim mesma do jeito que eu sou. E então descobri que amor próprio é o primeiro passo pra ser realmente feliz.

Percebi que na verdade eu estava me cercando de pessoas que me colocavam "pra baixo", e que o problema estava nelas, e não em mim (relacionamentos doentios podem fazer grandes estragos - não só físicos, mas principalmente emocionais).
Quando "emputeci", a procura dos clientes por mim também foi um fator que fez minha auto estima melhorar muito. Os elogios, mais ainda.
Comecei a ver que existem sim pessoas que não só pagam pra sair comigo, como muitas vezes gostam, voltam, e se sentem bem ao meu lado. Dessa forma eu enxerguei que eu não precisava me arrastar aos pés de ninguém (como já fiz no passado, confesso).

O melhor de tudo isso é que a mudança é visível e praticamente "milagrosa". A partir do momento que a gente se ama e se aceita, aprende também a impor limites. Tomamos consciência que não nascemos pra ser pisados, humilhados, ignorados, enfim... A gente realmente se dá conta que merece o melhor, sempre!

Hoje em dia acordo me achando linda, gostosa, poderosa (menos quando estou de TPM). Continuo enxergando aquela imperfeição ali, outra aqui, mas penso "as outras qualidades superam" rsrs e assim vou vivendo, me amando, me descobrindo mais a cada dia e com a certeza que todos nós temos muito poder e brilho próprio... É só despertar!

quarta-feira, 4 de maio de 2016

Crises Existenciais

Logo que comecei a trabalhar tive umas crises de existência, ou de identidade - como quiser chamar.

Do dia pra noite eu, que nunca nem sequer tinha pisado em uma zona, estava lá, trabalhando.
Lembro até hoje de como escolhi o nome Juliana e da roupa que eu usei na primeira noite (um short vermelho e uma blusinha preta - que estavam largos e bem batidos). Apesar de não fazer tanto tempo assim (pouco mais de 1 ano e meio), já vivi tanta coisa nesse período que parece que fui puta a vida inteira.

Claro que foi uma escolha minha e que eu tinha consciência que não seria fácil. Mas na prática tudo é mais complicado, né?
Meu primeiro dia de trabalho foi uma "maravilha". Os clientes não eram dos melhores, mas eu estava meio que em "modo automático" de tão nervosa, e mal raciocinava. Pensava apenas em ganhar dinheiro e tornar aquilo o mais agradável possível.
"Vou tirar de letra" - pensei. Mas mal sabia o que me aguardava...

Nos dias seguintes já tive uns altos e baixos, mesmo com o dinheiro entrando eu pensava "será que vale a pena?" "e se alguém descobrir?" - eu estava saindo de um relacionamento doentio e morria de medo de ser descoberta (tenho certeza que, na época, ele me mataria). Hoje em dia, não me importo mais. As pessoas que precisam saber, sabem. E se alguém que ainda não sabe "descobrir", paciência!

Lembro que no início tinha dias que eu torcia pra campainha daquela casa de massagem não tocar, mesmo sabendo que precisava que ela tocasse para ganhar dinheiro - caso contrário eu estaria ali perdendo tempo. Certa vez me senti tão angustiada que comecei a chorar no meio do programa, e pedi pro cliente não contar nada pra cafetina e que eu mesma devolveria o dinheiro dele - e assim fiz.
Outra vez, já nas boates, também tive uma crise de choro no meio do salão, peguei minhas coisas e fui embora ainda no início da noite. Me sentia suja e perdida naquele meio.
Mas logo vinha o dia seguinte, a necessidade do dinheiro, e eu pensava "eu aguento". Aos poucos as coisas vão se tornando normais.

Não sei em que momento o nome "Juliana" passou a fazer parte de mim definitivamente. Em que momento tudo isso se tornou rotineiro. Quando foi que a ideia de ser uma garota de programa deixou se der novidade.
Fui me acostumando aos poucos, o que não quer dizer que tenha sido fácil. Longe disso! Vários dias não fui trabalhar, ou desisti no meio da noite, por não estar bem psicologicamente.

As coisas começaram a melhorar quando passei a trabalhar por anúncios, e somente durante o dia. Voltei a ter uma rotina normal, e viver mais a minha vida pessoal, e isso me fez muito bem.
Atualmente posso dizer que estou bem, mesmo. Não que nas outras épocas não estivesse, mas a fase das crises existenciais passou. Hoje me sinto mais segura, mais convicta do que quero, e até melhor como pessoa.
A prostituição me ensinou muita coisa, muita coisa mesmo. E não falo só de sexo, mas sim sobre a vida, as pessoas, e sobre mim mesma principalmente.