quarta-feira, 22 de junho de 2016

Casarão

Quando saí da casa de massagem fiquei perdida. Saí de lá em meio a uma discussão com a cafetina e outra garota, com 250 reais na carteira, aluguel e babá por vencer e sem saber pra onde correr, pois eu não conhecia outros lugares.

Voltei à estaca zero e comecei a ligar pra várias casas de massagem perguntando se precisavam de garotas. Algumas já estavam cheias, e outras fui visitar. Contei a saga toda por aqui.
O problema é que era muito difícil encontrar um ambiente "decente". A casa onde eu trabalhava podia ser horrível em questão de tratamento com as garotas, valor e clientes, mas era muito limpa e isso eu não posso negar.
Quando fui visitar outras, vi algumas que além de tudo de ruim, ainda por cima eram sujas, não trocavam nem o lençol e as toalhas.

Em uma dessas "visitas" em casas, fui parar num casarão desses antigos. Quando cheguei me deparei com a dona, uma coroa de biquíni amarelo.
Entrei e ela começou a me mostrar a casa. Na hora já não gostei, os quartos eram improvisados e alguns em vez de porta tinha apenas uma cortina, mas fiquei sem jeito de falar pra ela na hora.

Então ela foi me mostrar a "área de lazer".
-A gente gosta de deixar os clientes à vontade. Às vezes eles ficam na piscina, bebendo, depois resolvem fazer algum programa.
Quero que nesse momento, querido leitor, você imagine a cena que vou descrever: a parte dos fundos de um casarão antigo, grama precisando ser cortada urgentemente, sacos de lixo nos cantos das paredes, latas de cerveja e bituca de cigarro por tudo quanto é canto. Eis a piscina: de plástico, com suporte de ferro, a água devia bater na altura do meu joelho, mais ou menos. Ao lado, uns 4 homens e umas meninas nada simpáticas se revezando em cadeiras plástica e cadeiras de praia meio rasgadas e enferrujadas. O cenário perfeito para propagação de dengue, zika, chycungunha, micose, tétano e toda sorte de doenças imagináveis. 

Queria sair dali correndo.
-Ah! E você ganha 2 reais por cada cerveja que o cliente pagar pra você.
Uau! Parece tentador hein! (Só que não).

-Você pode se trocar naquele banheiro ali. SAI DAÍ JENIFER! A MENINA VAI SE ARRUMAR! - A dona da casa disse enquanto me levava até o banheiro, enxotando outra menina que estava retocando a maquiagem.
Eu realmente queria ir embora dali. Mas fiquei com vergonha de falar, não sabia como dizer que me senti péssima naquele ambiente e não entendia como as garotas e os clientes se sujeitavam aquilo.

-Poxa, agora que lembrei. Esqueci de trazer meu buscopam, estou com uma cólica terrível. Vou na farmácia e já volto.
Sim, eu sei que poderia ter simplesmente ido embora, mas na hora preferi inventar uma desculpa.
Qual foi minha surpresa quando a dona falou que eu não precisava sair que tinha remédio lá.
Me entregou, e disse que qualquer coisa estaria na piscina.
Entrei no banheiro, esperei 2 minutos e saí de volta.
Fui em direção a porta de saída, uma das garotas ficou me encarando e eu disse:
-Vou ali e já volto.

Desci aquela rua sem olhar pra trás, com os passos mais rápidos que eu podia. Nunca mais voltei!

quinta-feira, 9 de junho de 2016

Sobre Gratidão

Ontem eu estava com meu primeiro horário livre, e como de costume parei pra apreciar o mar.
A vista aqui do meu local (ap onde atendo os clientes) é muito bonita, uma pena que seja impróprio devido a poluição - mas a beleza visual continua, e eu aproveito dela.
Respirei fundo e me senti grata.

Ah, a gratidão! Na minha opinião, uma das palavras mais bonitas do nosso vocabulário. E poderosa também! Eu sinto que quanto mais eu agradeço, mais coisas boas acontecem.

É engraçado como depois de um certo tempo a gente para de se preocupar com coisas banais, e vê que os sentimentos ruins não nos levam a lugar nenhum.
E percebe também que ser grato nos faz bem.

Às vezes vivemos correndo tanto, com tantas preocupações na cabeça, que esquecemos de apreciar os pequenos momentos, as coisas mais simples.
Lembrei do quanto sofri quando minha filha não estava morando comigo. Antes de eu começar a fazer programa ela passou uns meses com a avó e o pai, pois na época eu realmente estava sem condições financeiras de trabalhar e pagar alguém pra cuidar dela. Quantas noites e manhãs vazias passei chorando, por não estar perto pra dar um beijo de boa noite ou servir o café da manhã pra ela.
Pode parecer coisa tão banal, mas hoje agradeço por cada um desses momentos. Chegar em casa e ver aqueles olhinhos brilhando contando como foi o dia não tem preço, dá aquela sensação de que todo esforço vale a pena.

Encontrei vários outros motivos pra ser grata todos os dias. Desde a força pra me levantar da cama de manhã, até o cobertor quentinho na hora de dormir. Aprendi a apreciar momentos como um almoço com pessoas que a gente gosta, ou uma simples caminhada na praia jogando conversa fora. É desses momentos que a vida é feita!

Não importa se vai sujar louça, ou a roupa, ou a casa. Não importa se vai demorar um pouco mais, se vai sair da sua rotina ou quem sabe fugir um pouco do orçamento. A vida passa rápido, e se a gente quiser realmente se sentir bem os pequenos momentos devem ser aproveitados com intensidade.

Como GP, aprendi a agradecer também, pelos clientes, pela grana, pelas coisas que consegui - e por que não agradeceria por isso? Afinal, é minha vida, minha história, minha jornada, é o caminho que escolhi traçar.
Esse detalhe é importante: tudo depende das nossas escolhas. Todos os dias temos alternativas: ser feliz, ou não. Agradecer, ou não. Correr atrás dos objetivos, ou não.
Sempre lembrando que do céu só cai chuva, mas quando a gente vai atrás e aprende a realmente apreciar as coisas ao invés de reclamar, tudo muda.

Se você aceitar um conselho vindo de uma garota de programa, meu conselho seria esse: agradeça mais, sorria mais, corra atrás dos seus sonhos, encontre sentido para sua vida, aproveite melhor os momentos.
Seja feliz!

segunda-feira, 6 de junho de 2016

A Jessica Tá Louca

Dizem que nessa vida é difícil encontrar amigas verdadeiras, mas eu posso dizer que encontrei algumas pelo meio do caminho sim!
Meu conceito de amizade não é aquele de "tem que falar todo dia" ou "viver na casa do outro". Pelo contrário... Na minha opinião bons amigos são aqueles que seguem caminhos diferentes mas ao mesmo tempo estão sempre por perto, que a gente sabe que pode contar e vice-versa.
Minha amizade com a Jessica (nome de guerra) é assim. Ela tem a vida dela e eu a minha, não nos vemos com tanta frequência, mas temos um carinho grande uma pela outra e já tivemos boas provas de amizade.

Lembro do primeiro dia que ela chegou pra trabalhar na boate. Eu ja estava lá a alguns meses e pude notar que ela estava perdida: nunca havia trabalhado. Sempre gostei de dar uma mão pras meninas que estavam começando, porque sei que o começo é bem assustador e difícil, então eu e a Jessica começamos a conversar, beber, e rir juntas todas as noites. Logo ela estava craque, cheia de clientes, uma puta de primeira. Eu brincava que ela havia nascido pra isso, hahaha.

Quando comecei a fazer show de strip  (sim gente, na noite eu me virava nos 30 pra garantir dinheiro no bolso rsrs) convidei ela pra fazer também, mas a danada morria de vergonha de ficar lá pelada na frente de todo mundo... Até que a tequila entrou na vida dela.

Certa noite um cliente começou a pagar doses de tequila, e a Jessica se empolgou. Não lembro o número exato de doses, mas ela tomou muitas. Resultado: em poucos minutos já estava dançando em cima do balcão, e não demorou muito pra tirar a roupa toda - a vergonha foi embora e ela alegrou a noite dos homens que estavam lá hahaha!
O cliente que estava pagando as doses era um velho conhecido, daquele que até os funcionários da zona conhecem pelo nome. Então ele convidou a Jessica para ir dormir na casa dele, e ela foi.
Detalhe: ela foi só de sobretudo, descalça, sem nada por baixo. Entraram no carro e tchau.

Dizem que chegando lá nem fizeram nada direito, pois estavam pra lá de Bagdá.
O melhor de tudo foi o dia seguinte: como ela ia fazer pra ir embora, sem roupa?
Pois chamaram um táxi, e ela foi novamente de sobretudo, sem nada por baixo, de volta pra zona, pra pegar o sapato e as roupas que tinham ficado por lá, descabelada, pálida, e morrendo de dor de cabeça.

Tem histórias que não dá pra deixar passar. Como uma boa amiga, eu não poderia deixar de registrar esse capítulo da tequila!!