quarta-feira, 22 de novembro de 2017

Pane no Sistema

Até uns anos atrás minha vida foi bem conturbada, talvez os leitores mais "antigos" saibam disso. Muitas vezes eu evitei (e confesso que as vezes ainda evito) falar sobre meu passado, afinal, é PASSADO... Já foi! Não gosto e nem preciso ficar me vitimizando, ou lembrando para as pessoas sobre tudo que já passei, até por que quase todo mundo já passou uns perrengues na vida - alguns mais, outros menos.

Eu não sou mais que ninguém, mas não sou menos também. Sou uma pessoa que cresceu sem estrutura familiar e que fez escolhas erradas. Não existem culpados, apenas aprendizados.
Fui uma criança mimada, me tornei uma adolescente rebelde, chata e egoísta. Eu revidava quando minha mãe vinha me dar uns tapas, e achava normal quebrar tudo na hora da raiva. Apanhei muito (e não foi da minha mãe) pra aprender a "baixar a bola".

Depois que minha mãe se foi, eu me droguei. Me droguei demais, me entreguei pra pessoas por carência, deixei meu amor-próprio totalmente esquecido e amassado em um canto qualquer (apesar de, aparentemente, passar a imagem de uma jovem independente, segura e cheia de si), e demorei pra perceber que estava "feia na fita". Na verdade, acho que só percebi quando eu consegui sair do meu fundo do poço.

Há uns 4 anos atrás, acabei indo morar em uma favela, em uma situação de vida bem precária. Me envolvi com um tráfico "chinelo", de migalhas (pois nem era muito lucrativo), sempre envolvida com outro usuário, muitas vezes mal tinha o que comer, e fiquei meses e meses sem ter um botijão de gás em casa. Passei por relacionamentos doentios, abusivos, e degradantes.
Apanhei durante 6h trancada em uma casa, desmaiando e acordando a base de socos, tapas, puxões de cabelo, chutes - sem falar nas facas e garfos arremeçados. Caminhei pela rua durante a madrugada, com o agressor atrás de mim com uma lajota na mão ameaçando jogar na minha cabeça a qualquer momento.

Um dia cansei de tudo aquilo, e percebi que precisava de grana pra mudar alguma coisa na minha vida. Fui pra zona.
Me prostituí e conheci um lado da vida totalmente novo e diferente, mas que me transformou como mulher, como ser humano.
Enfrentei meus próprios fantasmas, e as noites solitárias após grandes noitadas me fizeram enxergar quem eu sou realmente. Ali comecei a me encontrar, me estabilizar, e me levantar. Foi uma fase de auto-conhecimento incrível (e pesada, diga-se de passagem).

A vida foi tão generosa comigo que foi colocando pessoas maravilhosas no meu caminho. Amigas/irmãs, e um companheiro que nem se eu levantasse a mão pros céus um milhão de vezes seria o suficiente pra agradecer. Consegui formar uma família, me consertei com meu passado e com pessoas importante para mim que, devido a minha "vida louca" anterior, fiquei mais de uma década sem ver. Fui agraciada com a chance de ter uma VIDA "normal".

Hoje posso dizer que sou feliz e grata por tudo, mas não pensem que todos os dias são fáceis... O passado deixa marcas, não tem jeito.
Descobri que após tudo isso, me tornei uma pessoa extremamente ansiosa, sempre com mil coisas na cabeça, fazendo lista de afazeres extremamente detalhadas que me deixavam frustrada cada vez que eu não conseguia cumprir por completo.
Mil projetos na cabeça, vontade que tudo aconteça rápido, cheguei a fazer planejamento financeiro até 2020... Resultado: A bomba estourou. Tive uma crise de ansiedade, palpitações, falta de ar, tremedeira, e muitas lágrimas.
Precisei falar, chorar muito, colocar pra fora tudo o que eu guardava dentro de mim. Foi difícil, mas necessário.

Tudo isso me serviu para parar e respirar um pouco. Também foi bom para organizar a mente, e ter certeza do que eu realmente quero pra minha vida. O mais importante é VIVER UM DIA DE CADA VEZ.

Mas, ficou também a questão...
Será que quero continuar assinando como Juliana Ramos?
Será que não é hora de fechar esse capítulo da minha vida definitivamente?

Eis a questão!
Continuo aqui, refletindo...

quarta-feira, 1 de novembro de 2017

Páginas Do Meu Diário

Florianópolis, 30 de Janeiro de 2015

04:45h - Faz mais ou menos uma hora que a boate fechou. Me "desmontei", tomei um banho frio e relaxante, deixei a água escorrer por cima de mim - até que uma das meninas começou a bater na porta e gritar pra eu sair. Ela estava bem alterada, o que não é de se estranhar após uma noitada dessas.
Eu deveria estar dormindo agora. Estou bem cansada, meus olhos chegam a arder, e minhas pernas doem de tanto que subi e desci escadas na função salão-quarto hoje. Mas o sono não vem, por isso eu vim escrever.

É muito difícil ficar sozinha aqui. Sozinha, mesmo cercada de gente.
Sozinha, com o bolso cheio, e sem conseguir dormir. Hoje estou me sentindo suja, nojenta, e minha vontade é só chorar.

Estou ganhando um bom dinheiro. A casa de massagem que eu estava trabalhando é uma piada perto disso aqui. E sei que perto do que passei lá, isso aqui é um paraíso!
Aqui tem acomodação especial para as meninas, cada uma tem seu quarto (lá eu dormia nos mesmos quartos onde fazíamos os programas). Até alimentação eles dão aqui, veja só! 

Era pra eu estar mega feliz. Estou grata pelo dinheiro que estou ganhando, afinal é isso que eu queria. Mas tem noites, como essa, que me sinto um cocô no fim da noite.
Ficar no bar caçando programa, aturando velho bêbado e filhinho de papai folgado, é dose! Conversar, rir, beijar, e ter que ser carinhosa, quando não estamos com a mínima vontade, é horrível!

Mas fazer o que, se é isso que eu escolhi? Fazer o que, se é isso que tá rendendo? 
Não vou jogar tudo pro alto. Não vou mesmo! 
Sei que vai chegar o dia que não vou mais precisar passar por isso. Vou ter uma vida normal. Não entrei nessa em vão, não vou passar esse sofrimento a toa. 

Outro dia está raiando... E tudo vai ser diferente.
Que Deus me guarde, me guie, e me confortee.
É só uma noite difícil!